O Auto da barca do Inferno é uma das peças mais famosas de Gil Vicente. Faz parte da Trilogia das barcas, ao lado de Auto da barca do Purgatório e Auto da barca da Glória. O autor imagina um rio em cujas margens há duas barcas: uma que leva ao inferno, conduzida pelo diabo, e outra que leva ao paraíso, conduzida por um anjo. À medida que vão chegando, as almas conversam com os barqueiros e tomam conhecimento do destino que as aguarda. As almas representam tipos sociais. Os condenados ao inferno são: o Fidalgo (que representa a aristocracia perversa e arrogante); o Onzeneiro (que representa o pecado da agiotagem, condenada pela Igreja); o Sapateiro (que representa os comerciantes ladrões); o Frade, que vem com sua amante (representando a parte corrupta do clero); a Alcoviteira (representando aqueles que viviam da prostituição de moças); o Judeu (que, na época, era marginalizado porque contra ele pesava o preconceito religioso de ser o assassino de Jesus); o Corregedor e o Procurador (representando a corrupção da justiça); o Enforcado (um ladrão que se julgava salvo por achar que a forma de sua morte já lhe garantia um lugar no céu). São salvos apenas o Parvo (camponês idiota e explorado que é aceito na barca do paraíso por sua falta de malícia) e os quatro Cavaleiros, que morreram em defesa da fé católica nas cruzadas.
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